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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ostra Feliz Não Faz Pérola
[Grande obra contemporânea brasileira]

   Do sofrimento que produz a beleza, da morte que conduz à vida, do envelhecimento que traz a juventude, do sagrado que está em todos os lugares. Rubem Alves, nos presenteia com pequenas doses de poesia filosófica, sobre vida, beleza, política, amor, sofrimento, religião, saúde mental, etc. Deliciar-se desta obra é uma forma eficaz de aprender a transformar aquilo que se vê, em beleza.

Um dia, ao ouvir uma sonata para violino e piano Rubem Alves emocionou-se. Perguntou a si mesmo: Porque é que você está chorando? A resposta veio fácil: Choro por causa da beleza. Mas o que é a experiência da beleza? Sem uma resposta pronta lembrou de algo que aprendeu com Platão.

"Platão, quando não conseguia dar respostas racionais, inventava mitos. Ele contou que, antes de nascer, a alma contempla todas as coisas belas do universo. Esta experiência é tão forte que todas as infinitas formas de beleza do universo ficam eternamente gravadas em nós. Ao nascer, esquecemo-nos delas. Mas não as perdemos. A beleza fica em nós adormecida como um feto. Assim, todos nós estamos grávidos de beleza, beleza que quer nascer para o mundo qual uma criança. Quando a beleza nasce, reencontramo-nos com nós mesmos e experimentamos a alegria".

   Ao ouvir uma música que me comove por sua beleza, eu me re-encontro com a mesma beleza que estava adormecida dentro de mim. 

   Este reencontro acontece todas às vezes que somos comovidos por uma leitura, uma música, um sorriso, uma palavra, um suspiro, uma lágrima...  Porque é exatamente ali que a beleza está escondida.

   A beleza é devagar, assim como a vida é devagar. Depressa, só a morte. O que vemos não pode ser comparado ao que se imagina. Muitas pessoas têm visão ocular perfeita, mas nunca viu um quadro, embora o tenha visto. 
              (Obra de Jan Vermeer 1881 - A moça do brinco de pérola)

   E quanta coisa cabe num simples quadro! Deste movimento interno, de idas e vindas, o que antes nos incomodava se transforma em energia. Energia que move, que transita e gradativamente vai nos transformando em preciosas pérolas.
Beethoven, estava completamente surdo, no fim da vida. E foi dele que saiu a Nona Sinfonia - que é um hino à alegria. Muita viola velha faz beleza de fazer chorar...

   Ao ler Ostra feliz não faz pérolas, o autor reinflama em nós a convicção de que: Nascemos para ser felizes! A ostra para fazer pérola tem que ter um grão de areia dentro dela, que a faça sofrer, e a ostra  força para expelir o grão, assim, faz a  pérola deixar de sofrer. Penso que as histórias surgiram para Rubem Alves, de forma tão poética,só pelo simples fato de estar a sofrer. Somente quem está sentindo o gosto amargo, provando da dor é capaz de produzir algo tão intenso, que permite provocar no outro vários questionamentos e reflexões. Esta literatura nos desperta para a beleza da realidade.

Quem leu apropriou e identificou-se.Indicou para outros afim de compartilhar a beleza que muitos ainda estão gestando, mas já sentindo as contrações do parto. Pronta para nascer!

Devagar... Devagarinho... A vida é devagar.

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Fragmentos:

   *Tanto os meus fracassos quanto as minhas vitórias duraram pouco. Não há nenhuma vitória profissional ou amorosa que garanta que a vida finalmente se arranjou e nenhuma derrota que seja a condenação final. As vitórias se desfazem como castelos atingidos pelas ondas, e as derrotas se transformam em momentos que prenunciam um começo novo. Enquanto a morte não nos tocar, pois só ela é definitiva, a sabedoria nos diz que vivemos sempre à mercê do imprevisível dos acidentes. Se é bom ou se é mau, só o futuro dirá.

*Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.

*Sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão.

*Faz tempo que para pensar sobre Deus, não leio os teólogos, leio os poetas. 

*A vida tem sua própria sabedoria. Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Há certas coisas que têm que acontecer de dentro para fora, sozinhas. 

*Ás vezes um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira.

*Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente.

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