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quarta-feira, 29 de junho de 2016


Amor ao próximo
Tempos difíceis para o amor


"Amarás o Senhor teu Deus de todo coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! Segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo". (Evangelho de São Marcos 12,28)


"(...)Não suportais a cossa própria companhia, e não vos amais o suficiente; procurais então seduzir o próximo com o vosso amor e doirar-vos com o seu erro. Eu quisera que todos os próximo e aqueles que se seguem se vos tornassem intoleráveis: Assim teríeis de extrair de vós mesmos o amigo de coração transbordante.
Convocais uma testemunha quando quereis dizer bem de vós; e logo que a haveis induzido a pensar bem da vossa pessoa, vós mesmo pensais bem da vossa pessoa.
Um procura o próximo porque se procura, o outro porque anseia perder-se. O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro".
Assim falava Zaratustra (Friedrich Nietzsche)


A dinâmica do amor passa pelo aperfeiçoamento de nós mesmos. Só é capaz de amar o próximo aquele que tem a capacidade de amar a si mesmo. Depois a dinâmica passa pelo acabamento final - amar a Deus, tornando a obra de arte completa.
O amor a Deus (daquele que primeiro nos amou) impulsiona o amor próprio, facilitando a compreensão de amar o outro. Não existe outro caminho para o verdadeiro amor senão este. 

Jesus unificou todos os mandamentos em um só: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Aparentemente as coisas mais simples são as mais difíceis de se colocar em prática. 

Estamos sempre esperando um troféu, uma recompensa pelos nossos atos de amor  e solidariedade.
Procuramos atrativos para amar o próximo, analisamos se o próximo nos faz algo de bom para ser merecedor do nosso amor e da nossa bondade. É preciso despir de preconceitos, deletar o entulho, conceitos arcaicos que estão tão arraigados que nem parecem abstrações, parecem coisas concretas, e vão gradativamente tornando-se  nossa maior relíquia (e ainda somos capazes de sentir ciúmes).

Com tanta subjetividade no mundo é necessário que eu me ame acima de todas as coisas, Deus existe, porém, está em outro plano e o meu próximo fica para depois, caso dê tempo de amá-lo. "O vosso mau amor por vós próprios converte a vossa solidão num cativeiro" (Nietzsche). 

São tempos difíceis para o amor, as pessoas andam preferindo ficar presas na subjetividade do que sair ao encontro do outro. Porque nem sempre amar o próximo é benéfico, causa alegria,  recompensa emocional, não traz felicidade, tampouco satisfação plena. 
São tempos difíceis para o amor, as pessoas andam preferindo ser o seu próprio deus, o centro de todas as coisas, a suma inteligência, potência e autossuficiência, afinal, elas não se importam com Deus porque são boas o bastante para viver sem Ele.
São tempos difíceis para o amor, já que as pessoas não conseguem amar a si mesma. A falta de amor próprio interfere em todas as áreas da vida porque a maneira como nos relacionamos com o mundo é um reflexo da forma como nos relacionamos com nós mesmos. Portanto, se você não é capaz de se amar, não será capaz de amar outra pessoa.  É, são tempos difíceis para o amor!

Machado de Assis, dizia que "O melhor modo de viver em paz é nutrir o amor próprio dos outros, com pedaços do nosso". Nietzsche, rebate "...  Assim teríeis de extrair de vós mesmos o amigo de coração transbordante." Grandes desafios filosóficos, teológicos, humanos...Diria também, "trabalhoso".

O homem só aprenderá  amar quando estiver pronto para doar seja para Deus, para si ou para o outro, sem exigir absolutamente nada em troca. A satisfação na vida  vem, quando percebemos que levamos prejuízos o tempo todo. Quando somos capazes de amar sem nenhum interesse, pois, é neste movimento que o coração humano ganha qualidade. 

Flávia Couto Basso.

Titãs -  Porque eu sei que é amor






sexta-feira, 24 de junho de 2016

Filosofando...
Santo Agostinho de Hipona

Santo Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles que será o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão ou melhor no neoplatonismo. Agostinho pela profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina.

Santo Agostinho foi um grande retórico, um grande filósofo e um grande Santo da Igreja. Sua obra é vasta e profunda porém, seu pensamento é tão profundo que supera as habilidades do retórico. A filosofia de Santo Agostinho é uma constante busca pela verdade, que culmina na verdade, em Cristo. É um movimento incessante, uma paixão, e, precisamente, a paixão principal: O Amor. "Amor meus, pondus meum", o amor é o peso que dá sentido à minha vida. 

Isto não é irracionalidade como muitos afirmam. Se incita a ter fé para entender, também anima a entender para crer melhor. Nada nos pode fazer duvidar da possibilidade de chegar à verdade. Nada valem os argumentos céticos. Si fallor, sum: Se me engano, é uma prova de que sou, diz, antecipando-se, num contexto muito diferente de René Descartes. E com mais clareza: "Sabes que pensas? Sei. Ergo verum est cogitare te, logo é verdade que pensas". Santo Agostinho analisava a vida levando em consideração a psicologia e o conhecimento da natureza.

Em uma palavra: A concepção de história é, em Santo Agostinho, uma concepção aberta. O seu "providencialismo" não é uma afirmação de "teocracia". Não se pode extrair da filosofia-teologia da história de Santo Agostinho argumentos  para o césaro-papismo ou para qualquer outra confusão do religioso com o político. A importância desta filosofia-teologia da história ressalta mais quando se tem em conta que em toda a história da filosofia será preciso esperar Hegel para encontrar outra concepção igualmente global e completa (embora em Hegel ela tenha um sentido panteísta).

O mestre do pensamento cristão é referência para todos os teólogos posteriores a ele, de modo que é impossível ler o pensamento de outros grandes vultos do pensamento cristão sem enxergar as tonalidades agostinianas nos escritos.
Referência: Kelly, J.N.D. Patrística: Origem e desenvolvimento. SP: Vida Nova, 1994.




Selecionei alguns pensamentos de Santo Agostinho (Subjetivamente) para refletir...


* Fé é acreditar no que você não vê; a recompensa desta fé é ver o que você acredita.

*O amor é a beleza da alma.

*Só o que faz bem ao homem pode fazê-lo feliz.

*Arrogância não é grandeza é inchaço. E o que está inchado nunca está sadio.

*A felicidade está em continuar a desejar  o que se possui.

*O orgulho é a fonte de todas as fraqueza, por que é a fonte de todos os vícios.

*... Conhece melhor a Deus na ignorância.

*Se o homem soubesse as vantagens de ser bom, seria homem de bem por egoísmo.

*A função do mal consiste em salientar mais nitidamente o bem.

*Se queres conhecer uma pessoa, não lhe perguntes o que pensa mas sim o que ela ama.

*Os homens estão sempre dispostos a vasculhar e averiguar sobre vias alheias, mas lhes dá preguiça conhecer-se a si mesmos e corrigir sua própria vida.

Frases fáceis de se entender simples como o próprio Santo Agostinho o foi.

          Flávia Couto Basso.







quarta-feira, 22 de junho de 2016

Oscar Wilde 
O Retrato de Dorian Gray
["Porque influenciar uma pessoa é dar a ela a própria alma. Ela passa a não pensar com os pensamentos naturais. As virtudes que possui deixam de ser; para elas, reais. Os pecados que comete, se é que existem pecados, são todos tomados por empréstimo. Ela se torna eco da música de outrem, ator um de papel não escrito para ela."- O Retrato de Dorian Gray]

Este é o terceiro livro de Oscar Wilde a ganhar uma versão cinematográfica pelo diretor Oliver Parker juntamente com "Marido Ideal" e "Armadilhas do Coração".
O filme teve a ultima exibição na mostra Panorama do Cinema Mundial, no Festival do Rio 2010.

Eu não concordo que todas as adaptações sejam válidas. O livro é muito superior ao filme.O longa acaba por desrespeitar à memória do lendário escritor.
A atuação do protagonista Ben Barnes, deixou a desejar (Para quem assistiu as Crônicas de Nárnia pôde comprovar sua brilhante atuação interpretando o Príncipe Caspian). O livro é sofisticado com leitura fascinante, linguagem antiga e formal e faz aversão do jovem Dorian deixando o leitor deslumbrado com a narrativa, riquíssimo estilo clássico de Oscar Wilde.
Bom, o filme de forma independente não é tão ruim, mas vendo como adaptação não surpreende. Embora emplacou a interpretação de Ben, ainda conseguiu transmitir um ser frio, nocivo e perturbado, criando um ar de loucura oculta.

O livro critica a sociedade de sua época no que ela tem de pior, todos os seus defeitos e hipocrisias. Acredito também que Oscar utilizou seus personagens, especialmente Lord Henry, para passar várias das suas visões, teorias e pensamentos sobre a vida, o casamento, a moral e a beleza (entre outras), teses e questionamentos esses que não cabiam na sociedade da época e que dificilmente seriam muito bem aceitos.
O clima entre Lord Henry, Dorian Gray e Basil -os três principais personagens é claramente sensual, dualidade na expressão. As mulheres expressaram seus romances rasos, falando sobre realidade e vaidade, onde juventude, beleza e status são valores maiores. 

Dorian Gray é jovem, dono de uma beleza que encanta a todos, sejam eles, mulheres ou homens. Basil é um grande pintor que conhece Dorian e fica enfeitiçado pela sua beleza querendo eternizar tamanha beleza, ele pinta o retrato de Dorian Gray chegando a ficar completamente apaixonado por ele.

Lord Henry é o burguês amigo de Basil, que depois de alguns minutos com Dorian deixa-o completamente perturbado, colocando em sua cabeça questões nunca imaginadas pelo rapaz como o fim da vida e a degradação dos seus bens mais preciosos (beleza e juventude) devido à atuação do tempo. Induzido pelo amigo Lord Henry a se aventurar  em um universo problemático, pouco a pouco Dorian se torna mal, mesquinho, arrogante e corrompido.

Quando a pintura fica pronta, Dorian enfim, tomou consciência da sua beleza e foi completamente tomado pelo orgulho e pela vaidade então num ato de desespero ele pede para que nunca envelheça, faz um "pacto" as marcas do pecado que cometesse, dali em diante fosse transferida para o quadro e que ele ficasse eternamente jovem e belo. Assim, foi feito e Dorian passa a desfrutar de todos os prazeres oferecidos caindo em um abismo profundo de experiências desastrosas, relações insanas, orgias, assassinatos... O retrato de Dorian apodrece, exatamente como sua alma, enquanto ele se torna mais sensual e desejado fisicamente, justamente pelo seu descaramento.


impelido a implorar que o retrato suportasse o peso de seus dias para queele pudesse conservar o esplendor imaculado da eterna juventude! Todasas suas infelicidades daí provinham. Melhor seria se cada pecado cometido
trouxesse consigo sua punição rápida e segura.”
(página 266)

Era necessário, Sir, para o desenvolvimento dramático dessa história,cercar Dorian Gray com uma atmosfera de corrupção moral. De outra forma,a história não teria sentido e o enredo ficaria sem desfecho. Manter essa
A história de Dorian Gray é angustiante e intrigante. Comparar sua pureza do inicio ao trágico ser que se tornou... Dorian chega a ter nojo de si mesmo, do que observa no retrato. Todavia, em alguns momentos contempla o retrato com orgulho, como um prêmio, encantando com sua própria perversidade, como se contente por deter um segredo tenebroso só seu.

"Na verdade, o homem não busca nem o prazer nem a dor, mas sim apenas a vida. O homem procura viver intensamente, completamente, perfeitamente. Quando conseguir fazer isto, sem lesar a liberdade alheia e sem nunca ser lesado, quando todas as suas atividades só lhe proporcionarem satisfação, ele será mais saudável, mais normal, mais civilizado, mais si mesmo. A felicidade é a medida pela qual o homem julga a natureza e avalia até que ponto está em harmonia consigo mesmo e com o ambiente".  (Aforismos, Oscar Wilde)

A ideia de Oscar é provocar um intenso debate social sobre o papel da aparência X moral. O filme se apegou mais para o lado místico da obra em vez de privilegiar a crítica de Oscar em relação a sociedade vitoriana, aparentemente sorridente mas vazia e podre por dentro em uma época cheia de glamour, luxo, vaidades e aparências. Até que ponto uma pessoa pode influenciar outra? Qual o preço para ser jovial e belo? Qual o verdadeiro sentido da vida?

No que se refere às características físicas e psicológicas dos personagens principais não vemos muita diferença nos dias de hoje: vida dupla, mantendo uma aparência alegre, uma aparência virtuosa, enquanto se entrega as vaidades e ao orgulho numa vida completamente vazia. 


"Há duas tragédias na vida: Uma a de não satisfazermos os nossos desejos. E a outra de os satisfazermos". (Oscar Wilde) A frase define a vida de Dorian de tantos desejos (pecados) que ele cometeu sua vida pessoal e social acabou se transformando numa tragédia que ele mesmo fala:


"Ah! Que momento maldito aquele que o orgulho e a paixão o tinham impelido de implorar que o retrato suportasse  o peso de seus dias para que ele lhe conservasse o esplendor imaculado da eterna juventude! Todas as suas infelicidades daí provinham. Melhor seria que cada pecado cometido trouxesse consigo uma punição rápida e segura." (p. 266).
Embora o livro tenha sido escrito no final do século XIX, seu tema pode ser transportado para os dias de hoje, pois o ser humano sempre se sente incompleto, o romance de Oscar Wilde é sofisticado porém, bruto- Impelindo o eterno desejo do homem pela juventude, pela popularidade, pelas conquistas, pelo status de sua vaidade, dos perigos de brincar com as leis da vida.


A personificação da vaidade, orgulho e individualismo de Dorian, amante de si mesmo e capaz de cometer todos os pecados, mostra a nossa fragilidade e nos faz reconhecer a natureza humana que por vezes procuramos esconder não só da sociedade mas de nós mesmo.  Dorian ao se arrepender descobre que para sua maneira leviana de encarar a vida, não há redenção.

Na verdade a sociedade está banhada de hipocrisia!
Como nos comportaríamos se descobríssemos que
somos eternos? 
E que o tempo paralisaria exatamente aqui e nos conservássemos para sempre exatamente como somos?

Como seria o retrato da sua alma?
Flávia Couto Basso.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Latim, presente!
Membro da família das línguas indo-européias
O latim agrega a língua itálica baseado no alfabeto itálico antigo, derivado do alfabeto grego, trazido da península itálica pelos imigrantes latinos que se fixaram numa região que recebeu o nome de Lácio, em torno do Rio Tibre, onde a civilização romana viria a desenvolver-se.  Naqueles primeiros anos, o latim sofreu influência da língua etrusca, proveniente do norte da Itália.

Os falantes do latim eram chamados latinos e isso se deve ao fato de morarem na antiga região italiana e Lácio (Latium em latim). Além desta língua, outras ainda eram faladas naquela época e naquele local, como, o grego. O latim era dividido em sermo urbanus e sermo vulgaris, respectivamente usados pela classe alta e baixa.

Hoje o latim vive sob a forma do latim eclesiástico usado para éditos emitidos pela Igreja Católica, de forma esparsa em artigos científicos, na ciência e no direito. O latim clássico é ensinado em muitas escolas, combinado com o grego, embora o seu papel tenha diminuído desde o início do século XX. O alfabeto latino, juntamente com suas variantes modernas como os alfabetos inglês, espanhol, francês, português e alemão, é o alfabeto mais utilizado no mundo.

O latim popular - vulgar não se apegava a regras gramaticas era utilizado pelo povo e, principalmente, pelos soldados romanos. Já o latim clássico era uma língua erudita e estava presente entre as pessoas letradas. Como o primeiro era falado pela massa, foi ele que disseminou e se deixava influenciar pela língua dos que o adotavam; até porque as classes inferiores da sociedade romana eram bastante numerosas. Enquanto o segundo manteve-se estático, tendo em vista que escritores e outros poucos usufruíam deste, pois fugia do cotidiano da maioria. O latim eclesiástico (parte cristã da língua latina), expandiu de acordo com o Cristianismo no império romana e Santo Agostinho foi e ainda é um grande nome daqueles tempos.

Contudo o latim não está morto ainda é moderno e faz parte do nosso cotidiano. Publicitários caem em simpatia e utilizam do latim em marcas de produtos: sorvete Magnum, bolacha Bono, linha de cosméticos Natura, chocolate Bis, e por aí vai...

Sapólio Radium. Radium em latim significa rádio.
Absorvente Intimus Gel. Intimus em latim significa secreto.
Sabonete Lux. Lux em latim significa luz.

O latim ao entrar em contato com línguas diversas, exerceu um influxo mútuo mais ou menos considerável e foi se diferenciando nas diversas regiões. Na verdade, o latim é a língua padrão oficial do rito romano da Igreja Católica, da Santa Sé e do Vaticano. Nos casos em que é importante empregar uma língua neutra, como em nomes científicos de organismos, costuma-se usar o latim. 

Sendo o latim oriundo da região do Lácio, em Roma, deu origem às chamadas línguas românicas, entre elas, o português.

Sentença em latim:

Absqye vado fluvius, nec stat sine pelice proles
Em longa geração, há conde e ladrão.

Aetas mala merx mala terga
Velhice e mercadoria ruim levam-se às costas.

Ars est celare artem
A arte está em esconder a arte.

Asinus asino et sus sui pulcher est
Coruja não acha os filhos feios.



Língua Portuguesa 
Olavo Bilac


Última flor do Lácio, inculta e bela.
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!


Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,



em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


Flávia Couto Basso. 


quinta-feira, 16 de junho de 2016



Reverência ao cinema francês. [De todos o melhor]
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain


Clássico do cinema francês, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é considerado uma obra prima do cinema moderno. Um filme completamente interessante e filosófico que foge dos padrões convencionais - Leve, charmoso, fotografia perfeita, rico em fortes cores de Almodovár e recheados de detalhes - com um belo enredo, personagens consistentes e apaixonantes. Em 2001 o filme recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

O talentoso diretor, Jean-Pierre Jeunet, acertou em cheio, dando à fábula um toque todo especial com cenas admiráveis, com a mágica trilha sonora e uma riqueza de simplicidade, incomparável. Entretanto há traços de fantasia, uma característica do Jeunet é misturar o universo fantástico à realidade além da pitada de humor. Envolvente e mágico o filme nos chama à prestar atenção que o amor está nas coisas simples e em lugares comuns. Em elementos básicos, em gestos banais, em pessoas sensíveis.

É interessante a condução que Jeunet dá ao roteiro na representação das cenas, como na parte em que aparece o coração de Amélie e a aura ao redor do velhinho que é ajudado, isso mais a tonalidade verde constante no filme e o modo como Amélie enxerga sua condição (vendo seu próprio destino através da TV em preto e branco). Ao final do filme o diretor deixa mais claro como as cenas se encaixaram e Amélie cumpre seu fabuloso destino.

Pra quem busca cotidianamente ser uma pessoa melhor, essa comédia dramática/romântica é o ponto de partida. Enxergar os mínimos detalhes da vida, dar sentido ao menor sinal de vitalidade existente num ser, saber dar valor ao que os outros deixam passar desapercebido.  Também é difícil não se identificar com alguma mania da protagonista, Audrey Tautou. Esse longa tem uma delicadeza e simpatia diferente dos outros, vale muito pela fotografia e roteiro, vale muito pela raridade e sutileza. 

Um mundo mais colorido para algumas utopias, mas quem não gostaria que a vida fosse fabulosa assim? Principalmente nos dias de hoje, nesta sociedade desenfreada, em meio ao individualismo brutal das pessoas. É, são tempos difíceis para os sonhadores!

Frases:

"Engraçado a vida, quando somos crianças o tempo não passa. E de repente, de um dia para o outro nós temos 50 anos. Depois da infância, tudo que nos resta cabe numa caixa velha." 

" Quando o dedo aponta o céu, o idiota olha para o dedo." 

"... E você nem legume é, porque até as alcachofras tem coração."


segunda-feira, 13 de junho de 2016


Santo Antônio de Pádua
Doutor da Igreja Católica

Conta a lenda, que um certo dia, uma moça muito bonita,  havia perdido as esperanças de arranjar um marido, e apegou-se a Santo Antônio. Dizem que a mulher adquiriu uma imagem do santo e colocou-a em um pequeno oratório. Todos os dias, a jovem colhia flores e as oferecia a Santo Antônio sempre pedindo que este lhe trouxesse um marido. Mas, passaram-se semanas, meses, anos… e nada do noivo aparecer. Então, tomada pelo desgosto e pela ingratidão do santo, ela atira a imagem pela janela. Neste exato momento, passava um jovem cavalheiro que é atingido pela imagem do Santo. Ele apanha a imagem e vai entregar à jovem, que se apaixona por ele e atribui a sua chegada a fé por Santo Antônio. A partir daí, as moças solteiras que queriam casar começaram a fazer orações pedindo ajuda ao santo e cultuando sua imagem. Entre as simpatias mais populares, acredita-se que as jovens devem comprar uma pequena imagem do Santo e tirar o Menino Jesus do colo, dizendo que só o devolverá quando conseguir encontrar o amor, ou ainda, virar o Santo Antônio de cabeça para baixo.  
Crendices, lendas, mitos, simpatias... Envolve a fama de Santo Antônio como o santo casamenteiro. Na realidade Santo Antônio, foi um dos grandes doutores da Igreja Católica, nasceu em Lisboa, ano ano de 1195, por isso é conhecido como Santo Antônio de Lisboa ou de Pádua, pertenceu à ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, estudou Filosofia e Teologia em Coimbra, e foi ordenado sacerdote. Tinha altas habilidades e era inteligentíssimo. Depois foi para Portugal onde ingressou na Família dos Franciscanos e dedicou sua vida à pobreza. Testemunhou Jesus com toda sua força e fidelidade ao Evangelho.  
Seu desejo de pregar a Palavra de Deus rumou seus caminhos, praticou a caridade, catequizou o povo simples, deu assistência espiritual aos enfermos e excluídos e até mesmo organizando socialmente essas comunidades, pregava contra a novas formas de corrupção nascidas do luxo e da avareza dos ricos e poderosos. No Brasil, ele é homenageado nas festas populares, as festas juninas como santo milagroso e casamenteiro.
No ultimo período de sua vida, Santo Antônio escreveu dois ciclos de "Sermões dominicais e sermões sobre os santos", destinados aos pregadores, professores, teólogos da Ordem Franciscana. Trata-se de textos teológicos-homiléticos, que recolhem a pregação viva, na qual Santo Antônio propõe um verdadeiro e próprio itinerário de vida cristã.
O Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe título de "Doutor Evangélico", porque destes escritos surge a frescura e beleza do Evangelho: Ainda hoje podemos lê-los como grande proveito espiritual. 
Santo Antônio, sofria de hidropisia, e faleceu aos 13 dias do mês de Junho de 1231, aos 36 anos de idade. Foi tanta a repercussão de sua morte e tantos milagres, atribuídos ao Santo, que onze meses após a sua morte, é canonizado pelo Papa Gregório IX em 1232; Foi o processo mais rápido da história da Igreja.
Em 1263, quando seu corpo foi exumado, sua língua estava intacta e contínua intacta até hoje, numa redoma de vidro, na Basílica de Santo Antônio, em Pádua, onde estão seus restos mortais.
Santo Antônio, rogai por nós!





sexta-feira, 10 de junho de 2016

João Gilberto completa seus 85 anos!

Engana-se quem pensa que respeito é só para autoridades. Aliás, aqui no Brasil a boa parte de "suas autoridades" perdeu o respeito há tempo. Está aí um homem completamente respeitado dentro e fora do seu país. Ícone de movimento musical sofisticado que surgiu no fim dos anos 50, conhecido como o "Pai da Bossa Nova", João Gilberto de Prado Pereira de Oliveira, completa hoje, 10 de Junho seus 85 anos.Cantor, compositor, violonista ele  é considerado uma lenda viva.

Artista não famoso, não tem rosto conhecido, não está nas redes sociais, nas rádios e programas de TV, (não está, mas já esteve) o seu nome não é conhecido por todos. Artista incomparável, gênio da Música Popular Brasileira - João é peculiar reinventou seu instrumento criou sua própria batida, inovou para sempre o conceito de MPB. Canta baixinho como se estivesse conversando pronunciando cada sílaba, desnudou as canções á sua simplicidade máxima e através da sutileza dedicou muitos anos de estudo para chegar a esta simplicidade.

A quem compare João Gilberto com Greta Garbo, mas, há também aqueles que o considera rabugento, ranzinza e chato. Bom, aqueles que apreciam música de alta qualidade tem maior condição de fazer análise crítica do cantor.

Seja qual for a opinião acho que João pouco importaria em saber.

Nascido em Juazeiro (BA) filho de um homem de negócios e também maestro, João participou das atividades de um conjunto vocal, depois da dissolução passou a produzir-se como cantor e violonista e assinou contrato com a gravadora Odeon. O sucesso de João Gilberto é incontestável. Todos os grandes nomes do Jazz, Stan Getz, Dizzy Gillespie, Zoot Sims etc; inspiraram-se nos seus discos e gravaram suas ultimas novidades.

João levou a Música Popular Brasileira ao mundo, principalmente para os Estados Unidos, Europa e Japão, ganhou prêmios importantes nos Estados Unidos e na Europa, como o Grammy em meio a beatlemania. Seus shows, quando anunciados, tinham ingressos esgotados nas primeiras horas de venda.


Aos 14 anos João ganhou o primeiro violão do pai,aos 18 anos começa a vida artística no cast da rádio Sociedade da Bahia, onde gravou com orquestras. João chega ao Rio de Janeiro aos  19 anos e atua na rádio Tupi. Em 1953 João tem sua primeira canção gravada: "Você esteve com meu bem" em parceira com Russo do Pandeiro, nesse época conheceu Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Jonnhy Alf...

Em 1955 João vai para Porto Alegre e se dedica ao estudo do violão. Em 1957 no Rio de Janeiro João mostra sua nova técnica aos músicos, e em pouco tempo influência toda geração de arranjadores. Em 1959, João estoura com o sucesso de "Chega de Saudade", o disco que mudaria toda a geração de João e as gerações futuras entre nomes como: Caetano Veloso, Edu Lobo, Francis Hime, Paulinho da Viola...

João sintetizou a MPB em seus termos fundamentais: Ritmo, batida, harmonia... Participou de inúmeros festivais dentro e fora do Brasil, apresentou-se para 1500 pessoas na Universidade de Mackenzie, várias apresentações no Au Bon Gourmet em Copacabana, Concerto no Carnegie Hall em Nova Iorque, composições de João, começam a chegar na França, nesta época João se apresentava no Uruguai e Argentina. Em 1963 sai em turnê pela Europa, volta à Nova Iorque, depois parte para o México. Em 1979 João Gilberto volta para o Brasil e não para mais. Entre festivais nacionais e internacionais, lançamento de discos, apresentações, estudos, especial para TV, etc. Em 1998 volta a se apresentar no Carnegie Hall, onde foi considerado "O homem mais coll do mundo". 

Em 2000 lança o álbum "João Voz e Violão". Em 2001 recebe outro prêmio Grammy, na categoria de melhor Álbum de World Music. Neste mesmo ano se apresenta no Festival Internacional de Jazz e Montreal, no Canadá. Em 2002, lança o CD "Live at Umbria Jazz", gravado em 1996. Em 2003 recebe o prêmio "Della Crítica Heineken", na Itália. Realiza uma turnê no Japão e em 2004 lança o CD João Gilberto in Tokyo, ao vivo. Em 2005 recebe a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura.

Qualquer músico brasileiro pós-1958 foi reinventado por João Gilberto. Isto é, João alterou de forma irreversível o DNA da Música Popular Brasileira. É difícil encontrar na história da música algum movimento que é atribuído a um nome. João Gilberto fez isso com a Bossa Nova.

Atualmente João Gilberto vive em uma suíte no Copacabana Palace, nunca sai e raramente é visto. E para aqueles que gostam e acompanham a vasta e rica obra do cantor contenta-se com uma ou outra foto postada no Instagram da sua filha, a cantora Bebel Gilberto, com curtíssima legenda e esporadicamente uma matéria rasa no jornal.

Segundo Ruy Castro, autor do livro "Chega de Saudade", sobre a Bossa Nova, João, tem hábitos fixos. Acorda ás cinco horas da tarde, almoça quase meia-noite e janta ás sete da manhã. João Gilberto odeia alterações em sua rotina.

Segundo Marco Antonio Bompet, namorado de Nara Leão, João passava o dia tocando violão no banheiro, de pijama. Ele acreditava que a acústica do local era a mais favorável. Dizia: "Não se pode machucar o silêncio, que é sagrado".

Talento deste quilate só aparece de 50 em 50 anos!

Vida longa a João Gilberto, magnífico talento do nosso país. Orgulho para a Música Popular Brasileira.




quarta-feira, 8 de junho de 2016


Livro: A Estepe - Anton Tchekoff


O mestre das narrativas curtas do século 19, Anton Tchekoff, brilhante escritor russo, contista e dramaturgo têm sido aclamado e considerado mestre do conto moderno. Tchekoff, foi médico, mas afirmava: “ A medicina é minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante”. Foi citado por Alfredo Bosi como um “pescador de momentos singulares cheios de significação”.
Tchekoff escreveu muitas crônicas sobre a vida russa. Em Abril de 1887, ele escreve uma carta para sua irmã:

“... Há um aroma de estepe e se ouve os pássaros cantarem. Eu vejo meus velhos amigos os corvos voando sobre a estepe.”

 Em 1888, Tchekoff escreve uma de suas obras primas: A Estepe.

Grande júbilo despertou em minha alma ao reler essa literatura clássica mundial.  Verdadeiramente um clássico contemporâneo da literatura russa, uma delícia de leitura estranha e original em que se reflete uma imagem da planície russa e seus tipos humanos, tudo recriado pelo prisma da percepção infantil do seu personagem principal, o garoto Iegoruchka, que faz uma longa viagem para ir estudar fora, contrariado da sua vontade, mas por insistência da mãe que acreditava que seu futuro não estava no local, o menino embarca nesta viagem acompanhado de seu tio (um comerciante) e de um padre.

Também apresenta o caráter múltiplo do texto: um relato da experiência, uma narrativa ficcional, um estudo de tipos humanos, a pintura da natureza, além de retratos das atividades econômicas, das relações sociais e das mudanças de comportamento em curso.

Numa das cartas, Tchekoff, escreve: “Meu objetivo é matar dois pássaros com um tiro: descrever a vida de modo veraz e mostrar o quanto essa vida se desvia da norma. Norma desconhecida por mim, como é desconhecida por todos nós”.

O livro mostra de forma clara a realidade russa da sua época, retrata a pobreza ao mesmo instante que mostra a imensidão da estepe russa. Durante a viagem Iegoruchka, pode contemplar a paisagem e os campos, conhece outras pessoas, e gradativamente vai despertando no garoto a curiosidade com o mundo á sua volta.

Tchekoff, nos presenteia com esta história, rica em detalhes e nobre em  simplicidade. Ao mostrar mudanças de fases, medo, solidão e sonhos sob o olhar de um menino pobre de 10 anos, que saindo da sua cidade deixando a proteção de sua mãe, parte em busca de novos horizontes, sozinho para enfrentar os desafios da vida adulta.

O elemento chave nesta história é o padre Cristóvão, que ao longo do percurso distribui sorrisos, otimismo e sempre tem uma palavra para o menino. Essa relação de confiança e amizade vai crescendo ao decorrer da história. O clérigo iluminado que tenta incutir ao jovem a luz do saber.

O ponto alto do livro a mensagem final é o conhecimento como caminho para o progresso. A história termina com um raio de luz numa expressão de bondade humana e de esperança num mundo melhor. 
Simplesmente delirante!
Flávia Couto Basso.












sexta-feira, 3 de junho de 2016

Um bravo guerreiro chamado RÁDIO
[Viva Landell]

Sim! Ele venceu a televisão, aos iphone, e toda a tecnologia móvel contemporânea e somente o tempo dirá se sobreviverá! Porém é inegável sua importância histórica no último século através ondas magnéticas.

Graças ao interesse do alemão Henrich Rudolph Hertz (1857-1894) os quilociclos passaram a ser chamados de quilohertz, depois o circuito elétrico sintonizado, a ampliação das ondas eletromagnéticas... e assim o rádio foi evoluindo!

Em 1893 o Padre-Cientista Roberto Landell de Moura, construiu o primeiro transmissor sem fio. Quando o Padre retornou da Itália teve mais tempo para desenvolver melhor as suas idéias:

“Todo movimento vibratório que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o concurso desse agente”. 

“Todo movimento vibratório tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem à sua marcha e produção”.

 “Dai-me um movimento vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz até lá”


Suas idéias foram patenteadas nos Estados Unidos no ano de 1904. (Já que no Brasil havia uma resistência em considerar seus inventos).

A primeira transmissão radiofônica no Brasil ocorreu no dia 07 de Setembro de 1922, com o discurso do Presidente Epitácio Pessoa. Poucos anos depois a famosa "Era do Rádio".

O "pai do rádio brasileiro" foi Edgard Roquette Pinto, fundador da primeira estação de rádio brasileira. Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, foi aí que surgiu o conceito de rádio sociedade ou rádio clube, no qual os ouvintes eram associados e pagavam uma mensalidade para manutenção da emissora.

Em entrevista para um jornal americano, Landell de Moura declarou: "Eu gostaria de mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é inimiga da ciência ou do progresso humano. O clérigo também revelou que suas crenças o levaram a ser perseguido por seus pares. "No Brasil, um bando de supersticiosos, acreditando que eu tenho pacto com o diabo, invadiu minha sala de estudos e destruiu todo meu aparato," contou. "Eu sei como se sentiu Galileu Galilei". 

No livro "Brasil Actual" (1903) o autor Arthur Dias, menciona e reverência Landell de Moura, escreveu: " Logo que chegou a São Paulo em 1893, começou a fazer experiências do seu invento de transmitir voz humana a uma distância de 8,10 ou 12 KM, sem necessidade de fios metálicos".

Landell, pouco conhecido e pouco citado, mas extraordinariamente brilhante!

Em 2005, em comemoração aos 84 anos do rádio no Brasil, inicia-se as primeiras transmissões de rádio no sistema digital, tecnologia que está apenas engatinhando no país.

E mesmo com o avanço da tecnologia,o rádio vai se reinventando. Presente em celulares, aplicativos, tablets, nos automóveis, enfim... 

Temos o dever de preservar a produção histórica para fomento das produções futuras. Infelizmente o  Brasil,  esqueceu seu maior inventor na área de telecomunicações. Notável talento que seu próprio país desprezou. Resgatar a memória cientifica do padre é o mínimo que podemos fazer por nós e para a ciência e tecnologia.