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terça-feira, 23 de maio de 2017

Resenha de Filme: SILÊNCIO


Eu sabia que o diretor Martin Scorsese, que desde 1967, vem tendo uma ascensão significante e progrediu muito dentro do Cinema, não nos decepcionaria.❤

Para 2017, ele nos trouxe essa grande novidade, o filme: SILENCE. Com enredo de ponta. O Drama (Ficção Histórica) é sobre os missionários (Padres Jesuítas Portugueses) perseguidos no Japão. Em uma época onde o Catolicismo foi banido, em busca do seu mentor e a propagação do Cristianismo,  enfrentam uma perseguição violenta. 


No elenco o ator Andrew Garfield,  interpreta o personagem do Padre Rodrigues.  Garfield embora precoce nas atuações, teve destaque e fama quando interpretou o personagem Peter Parker, no filme: O Espetacular Homem-Aranha. 

Também no elenco atores como:  Willian John Neeson , Adam Drive, Ciarán Hinds, contribuíram para que o esperando filme, fosse de fato um grande sucesso.



O longa tem 160 minutos, e marca a retomada da parceira entre Scorsese e o roteirista Jay Cocks, de Gangues de Nova York.  A religião sempre é tema fundamental, profissional e pessoal para o diretor.


É um filme sem trilha sonora onipresente e ás vezes até irritante, sem atuações exageradas feitas pra ser indicadas ao Oscar, sem monólogos explicando como o personagem sofreu, sem qualquer pretensão de responder a perguntas levantadas no próprio filme.✌



O filme se passa no Japão Feudal, sem uma trilha sonora, uma narrativa árida e melancólica, com poucos diálogos. A chegada dos padres no país, vai provocar ira do inquisidor, em um Japão Budista, que não aceita outra religião. 



Uma terra seca para implantar o Catolicismo. Os reverendos oferecem uma saída silenciosa, aproveitando até a fé que reverendos anteriores implantaram. Uma proposta de salvação, para um povo humilde, sem saída, como única esperança o paraíso de estar junto a Cristo. 

Reverendo Sebastião questiona o silêncio de Deus a suas preces. O alimento que ele recebe é a “água” que alimenta o espírito, um dom de Deus. O caminho a percorrer é de fora para dentro, pois aqui, este mundo nada tem a nos oferecer, só aparências. Ele sente-se revestido da coroa do Cristo. A resposta é o silêncio, a verdade está dentro de cada um: uma fé inquestionável.


No SILÊNCIO ele tem que viver e servir. Sente-se um mensageiro de Cristo perdoando os irmãos desafortunados. O catolicismo foi um ponto de luz ou a destruição de uma população que sem esperança neste plano, através do martírio, aceita as promessas de chegar ao paraíso. 


Quando o protagonista e o próprio filme vão questionando a verdadeira essência dessa missão, colocando-se a prova o que seria essa glória divina buscada por Ferreira. A dúvida central do filme aparece nessa relação em que a glória seria de fato para quem? Para o povo que sofre uma repressão pesada concordando com o cristianismo ou para o próprio padre, que, dessa forma, resistindo a essa dor se assemelharia com Cristo? Essa é uma ideia muito utilizada no filme.

O flime tem uma magnifica fotografia. Imagens entre o claro e o escuro. Chuva e sol. Alegria e desespero. Mãos sujas e unidas. O cenário sempre como julgamento de um desespero humano perante a um silênico divino, que é representando com pouca interferência humana. Traz uma natureza que não é redentora, mas um ambiente hostil, impossível de brotar raízes do catolicismo.

Além disso, o filme se despe de uma estética pré-estabelecida, buscando construir planos de extrema contemplação para que sinta peso daquele mundo retratado, embora as soluções narrativas são interessantes, o jogo de imagem não deixou nada a desejar, como um momento que a câmera assume a visão de seu protagonista preso num plano de sequência com movimentos panorâmicos, mostrando através da barras de ferro, a tortura e o sofrimento dos cristãos japoneses, colocando o público não só os olhos do personagem, mas também partilhando seu sentimento de incapacidades e de culpa perante a situação. 


A iconografia e o apego a cruz, e as imagens de Cristo tem dupla função: Para os fiéis, são motivo máximo de adoração; para os governantes, instrumentos utilizados para testar a fé. Essa dualidade é geralmente retratada com muito sofrimento, e Scorsese não faz nenhuma questão de afugentar essa posição em seu filme. Apesar de ser histórico o filme é bem atual, doravante á inúmeras religiões que surgem o tempo todo. E as pessoas sem nenhuma fundamentação apenas segue.

Ano passado eu comentei aqui no Blog Doce Subjetividade ❤ que, SILENCE entraria para a lista do Oscar. Eu tinha certeza que, depois de tantos anos de produção, do brilhante trabalho desenvolvido pelo diretor, isso sem mencionar a fotografia, enredo, elenco, atuações, enfim... Que o filme teria tudo para ser indicado. Após assistir o filme não me surpreende que a Academia tenha esnobado esse filme. A sua inventividade e sua busca extremamente densa por questões que parecem tão fora de moda, não se encontram com o "padrão de qualidade" do Oscar. SILÊNCIO é uma obra prima para poucos olhos.


O filme é baseado no livro que foi lançado em 1966 e desencadeou uma ampla discussão no Japão, por tratar exatamente da perseguição aos missionários católicos no país no século 16.

Novamente, recomendo.



quarta-feira, 10 de maio de 2017

                                      O segredo dos seus olhos 


Gosto de filme que após os créditos finais coloca-me em reflexão filosófica, acerca da vida e de tudo que nos aprisiona. "O segredo dos seus olhos" é mais que um filme é uma obra prima. Trata-se de um filme argentino (Sim, eles sabem fazer filmes), que foi ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2010. Dirigido por Juan José Campanella, a história envolve passado e presente. 

O filme é forte, instigante e indescritível, risadas e comoções caminham juntas. Primeira vez que deparo-me com filme argentino com um elenco tão grandioso e qualificado. Atores que não são piegas, não estão em todos os filmes como é característica do cinema hollywoodiano. 

Ricardo Dárin, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino, e o personagem cômico de Sandoval vivido por Guillermo Francella o alcoólatra sério.

O longa mostra de forma estupenda o âmbito judiciário, como é dito no filme "limpam a bunda com a justiça". A trama vai se desenvolve em cima de um estupro seguido de assassinato que mexe demais com a indignação e com a sede de justiça que existe dentro de cada um de nós. 

A história conta a inquietação de Benjamin Espósito (Dárin) um perito criminal, funcionário do governo argentino na década de 70 que não consegue viver bem após vinte e cinco anos de um crime mal resolvido e que ao mesmo tempo se pergunta: "Como se faz para viver uma vida cheia de "nada"?

O filme realmente trabalha com os olhos. Soledade Villamil personagem de Irene fala pelos olhos quase o tempo todo. Desde o começo do filme percebemos Benjamin como um homem triste, solitário e introspectivo. Já Irene nos indica o amor que sente por Benjamin e vive de luto pela vida que leva. 

Em uma determinada cena um colega de trabalho de Benjamin faz um paralelo sobre a paixão que temos por algo que gostamos muito, a inquietude busca completar os vazios que há anos pode permear nossas vidas. Ou seja, tudo redimensionado as escalas mais humanas e realistas. As idas, vindas e voltas de cortes temporais fazem os paralelos com o passado dos envolvidos e também são várias referências feitas a ruas, lugares, personalidades e contexto histórico.

A narrativa é um primor no que tange o real e o imaginário, que de quebra ainda conta com uma cena antológica de perseguição num estádio argentino de futebol. Este mosaico que vai ganhando uma nitidez cada vez mais imponente na trama mostra-se num ritmo crescente e quase hipnótico que perfaz uma travessia agradável para o espectador sem precisar usar apelação.

Com um final surpreendente, simplesmente fantástico, que classifico como um dos melhores que já vi, a obra não pode ser vista apenas uma vez. Uma análise mostra o cárcere vivido sob diversas formas, tanto um amor encarcerado, que só nasce após a dissolução do caso, quanto um amor de marido que opta por se autoaprisionar quanto outra forma de cárcere que me deixou abismada e ainda fascinada pela trama. 

Até no epílogo Campanella destila um talento e originalidade que beira o universo do bom gosto, e nos conduz a um filme que nos faz refletir e que nos faz admirar além do Papa Francisco, é claro, este diretor que dignificou a arte do cinema argentino.

A cena da prisão em que o assassino está atrás das grades, pelo ângulo dá a impressão que não só ele mas todos estão. A câmera filma cada um separadamente nessa cena, mudando de ângulo. Quem assiste o filme vê os diferentes homens atrás das grades. É fantástica esta cena! Todas aquelas três vidas diante daquele acontecimento foram condenadas. O filme é uma obra prima.

            Quem não viu precisa ver! Mil vezes recomendo.
                    E o melhor tem no Youtube.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Desafios da Arte no Mundo Contemporâneo

Qual a relação entre a vida e a arte? Questionamento do século 19 feito pelo pensador Friedrich Nietzsche. “A arte existe porque a vida não basta”, a resposta veio no século 21 pelo escritor Ferreira Gullar. Brilhante resposta! É verdade. Só a vida não basta, por isso, preenchemo-nos deste encantamento.

Mas como é possível expressar a arte nos dias atuais? O mundo contemporâneo está reinventando a arte? Ou a arte está recriando o mundo contemporâneo?

Walter Benjamin detém a mudança do conceito de arte promovida pelos meios técnicos. O filósofo Hegel pensa a transformação da arte a partir de um ponto de vista histórico, que envolve toda a história da arte desde os tempos antigos, até a época moderna. Com a modernidade surgiu o excesso de técnicas e tecnologia, mas, seria essa arte conceitual chamada contemporânea?

Bom, ainda que a arte contemporânea seja conceitual, ela transita em nosso meio, delineando nossas vidas com novas expressões, reinflamando nossa sensibilidade. A técnica não é tudo e nem pode ser, contudo ela não deve ser ignorada.

A arte é um campo absolutamente livre, cuja expressividade se dá em formas diferentes em cada tipo de arte. Sabemos que, algumas obras extremamente técnicas foram criadas para gerar dinheiro, assim como muitas obas modernas são. Muitas vezes, algo bem superficial e feito para enganar os que “entendem” de arte. Por isso, penso na educação da apreciação da arte em sua diversidade. Desde que, a arte seja simplesmente arte.

A arte contemporânea não é feita do “novo e original”, assim como ocorreu no modernismo. Ela se caracteriza principalmente pela liberdade de atuação do artista, que nunca tiveram tanta liberdade criadora. A reflexão sobre tudo que diz respeito à arte é tão importante quanto à própria arte em sim, que agora já não é um instrumento final, mas um instrumento para que possa meditar sobre os conteúdos impressos no cotidiano.


Acredito que não seja a falta de técnica o grande responsável pela crise no meio artístico, mas sim a falta de sensibilidade para sentir a arte pelas velozes transformações vivenciadas no mundo atual. A arte conceitual iniciou-se na década de 60, este movimento artístico abriu mão do formalismo e dos objetos para se concentrar em ideais e conceitos. O que acontece nas pessoas quando entram em contato com alguma forma de manifestação artística? A beleza de um quadro, de uma música, de um filme, nos comove... Faz-nos rir, chorar, pensar... (Por quê?) É isto que permite que uma obra de Shakespeare tenha validade hoje: A sensibilidade.

Talvez as mudanças brutais não estejam apenas nas ocorrências do Renascimento ao Conceitual, mas na mudança de comportamento; na ausência de sensibilidade deste homem pós-moderno de encarar a arte como vida, de compreender que o artista é capaz de expressar aquilo que talvez não somos capazes de explicar em nós!

Na arte, a tradição e reinvenção estão sempre num movimento constante é em cada subjetividade que seus talentos e ideias se tornam concentradas, daí, muito se explica dos artistas serem persistente, comprometido e tão dedicado. A arte exprime o que existe de melhor no ser humano, seja para quem cria ou para quem aprecia. Toda arte é expressão e inovação que emana naturalmente da alma, instiga e sugere o espectador. 

Vivemos em uma sociedade um tanto pragmática, onde o contexto está passando desapercebido por conta de um imediatismo social. Essa é a grande crise na arte, um subproduto do pensar do artista.

Vemos que hoje, se produzem inovações para todas as pessoas e todos gostos refinados, para o artístico muitas inovações ficam em desconcertos, por não conseguirem compreender as várias manifestações artísticas que correspondia às exigências da vida daquele mundo, daquela cultura. Por exemplo, quando Portinari pintou crianças, lavradores e retirantes, os apreciadores se reconheciam em todos aspectos artísticos. Hoje as atuais expressões artísticas estão buscando a si mesmas por meio de expressões subjetivas, deixando a desejar o despertar da apreciação alheia. O cinema, a poesia, a música, o quadro, etc. sofrem pelo nascimento do seu criador e pela falta de sensibilidade.

Por fim, é bom que surjam novas expressões artísticas porque nos fazem ver as crises de forma mais clara, uma vez que a crise sócio- econômica, a crise de valores e inversões, a crise do imediatismo, a crise em todos os amplos sentidos de crise reflete profundamente nas produções artísticas que nos cerca, exemplo: Nunca se produziu tanta música ruim como hoje. A crise afeta o artístico e a arte atual é a destruição do velho tipo, mas não é ainda o novo tipo. Sigo acreditando que a peculiaridade da beleza de uma obra de arte pode renovar nossa esperança e sensibilidade para dias melhores.