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quinta-feira, 8 de março de 2018

A vida secreta de Jonas 

Luiz Galdino
                           Editora: Ática
                         Coleção: Vaga-lume


Gente, eu amei esse livro! Quem não se lembra da coleção vaga-lume?
A infância tinha gosto especial de aventura e imaginação, vibrávamos com os vilões e mocinhos e tínhamos nosso personagem favorito. Depois íamos para a rua, discutir com os amigos sobre a literatura. O gostoso mesmo era quando a professora de literatura, pedia para que fizéssemos uma peça de teatro, uma música, coisas assim, para contarmos a história do livro indicado, era incrível!

Eu particularmente conheço muito pouco da obra de Luiz Galdino, autor do livro - sei que escreveu outros contos como "O fantasma que falava espanhol", "A cidade perdida", "Demônios da meia-noite", enfim... Mas, com certeza a vida secreta de Jonas nos faz perambular para um mundo repleto de devaneios e realidade, um salto em dois mundos diferentes a cada segundo, porém com a total fidelidade do mundo atual. Quem nunca conheceu alguém estranho ou que pensasse e agisse de modo diferente do seu? Com certeza, percebeu como é difícil conviver com a diferença. Aliás, muita gente acha que o ser "diferente" é ameaçador ou perigoso. Será verdade?

Em  a vida secreta de Jonas você terá a oportunidade de pensar bastante neste assunto. Encontrará várias histórias de amor, carinho, felicidade e tristeza. O livro me ajudou a sair um pouco da realidade maluca e trouxe um pouco da ação de um filme para o momento de leitura.

Escrito pelo professor Luiz Galdino que nasceu em Caçapava, interior de São Paulo o livro foi publicado em 1989. O autor escreveu mais de 40 livros, já recebeu mais de 30 premiações por seus livros, inclusive internacionais.


Um grupo de amigos que estudam na mesma escola conversam após a aula tranquilamente, até que um garoto surge de repente dizendo que não se lembra de nada, inclusive de seu nome. Alguns não simpatizam com o garoto e só querem lhe fazer mal, mas outros o acolhem, como é o caso de Ana Paula. Após a chegada do garoto eventos estranhos passam a ocorrer na cidade e grande parte da população passa a acusar o pobre garoto, agora conhecido como Jonas, que foi diagnosticado com amnésia. 

Isso não é uma resenha,  e sim uma análise simples feita acerca dos assuntos abordados no livro, bem como o comportamento dos personagens relacionados com o nosso cotidiano.

Personagens:
Geninho é o primeiro personagem que aparece no livro. Ele vive com os pais que, aparentemente, não se dão bem. Sua mãe não está satisfeita com o desempenho de seu pai, mas isso não faz com que ele seja um garoto rancoroso, muito pelo contrário, é um garoto educado e parceiro.

Ana Paula faz parte do grupo de amigos de Geninho. Ela é uma garota que tem opinião própria e não se deixa enganar facilmente, ela consegue tirar suas próprias conclusões em situações atípicas sem ser influenciável. Ana faz questão de ajudar quem precisa, é uma garota justa/justiceira.

Rúbio e Marcelo também fazem parte do grupo, mas ambos possuem uma personalidade totalmente diferente. São preconceituosos e não fazem questão de serem simpáticos com pessoas que desconhecem. Ambos são adeptos às brincadeiras de mal gosto, são grossos e não se sentem mal por isso.

Rafa é irmão de Rúbio, no entanto, no fundo ele é um bom garoto. Em algumas passagens vimos que ele foi influenciado pelo seu irmão, mas seu lado bondoso falou mais forte.

A Falta de empatia com o próximo
O grupo de amigos viu pela primeira vez um garoto que naquele momento apresentou um comportamento estranho: não se recordava de absolutamente nada, seu nome, onde morava, de onde veio etc.
Como é o natural de um grupo, cada um teria uma reação caso uma situação dessas acontecesse, mas é incrível como os personagens Rúbio e Marcelo odeiam esse garoto novo sem nenhum motivo aparente. Ninguém é obrigado a conviver com alguém que não goste, mas as brincadeiras feitas pelos meninos só demonstraram que eles não tinham o mínimo de compaixão com o próximo. Em contrapartida, Geninho e Ana Paula se mostraram muito solidários com a condição do pobre garoto e batizaram-no de Jonas. 
Rúbio e Marcelo estavam incomodados com a presença do menino no grupo e resolveram prendê-lo em uma fábrica abandonada, armaram para que o cachorro Fox atacasse Jonas, que sofreu lesões na perna e tudo isso sem que Jonas tivesse feito nada.
Esse tipo de situação ainda ocorre, às vezes crianças ou jovens não querem se relacionar com alguém que não pertença ao seu ciclo, a sua classe social e acabam por agirem de maneira rude. É claro que isso não se restringe aos jovens, isso é claramente um problema de criação, o que pode ser comprovado por meio do comportamento da mãe de Maurício que mostra-se tão preconceituosa quanto o filho. 
Não faz muito tempo que os jornais noticiaram o caso de jovens pertencente a classe média alta agredindo um mendigo que estava dormindo, o homem não havia feito nada diretamente aos garotos, mas o fato de ele existir e estar naquela situação foi motivo suficiente para que os garotos se irritassem e o agredissem. 

  
A Solidariedade
Em contraste ao comportamento inadequado dos dois personagens citados anteriormente, temos Geninho e Ana Paula que, desde o primeiro momento, mostraram-se dispostos a ajudar o garoto que sentia-se totalmente perdido. 
Após alguns encontros Ana Paula conversa com seus pais para que eles ajudem o garoto. Abelardo, pai de Ana Paula, conversa com o padre local e com as autoridades e não vê nenhum problema em ajudar o garoto levando-o para morar em sua casa. Novamente é possível perceber que a criança é o reflexo de sua família, o que molda o caráter de uma criança são as ações de seus pais, e não seu conselhos e orientações.
Abelardo procura médicos para examinar o garoto e chegam a conclusão de que ele sofre de amnésia, por isso não consegue se lembrar de absolutamente nada. 

* As Acusações sem provas e preconceito
Abelardo conseguiu que Jonas passasse a frequentar a mesma escola de Ana Paula como aluno ouvinte para que ele não ficasse tão atrasado no conteúdo, no entanto, os pais de diversos alunos fizeram um abaixo-assinado para que o garoto deixasse de frequentar a escola. Tudo isso por conta da falta de procedência de Jonas, por ele ter sido encontrado abandonado na rua, por ter sido acolhido sem que ninguém soubesse suas origens. Essa atitude mostra que algumas pessoas não conseguem se colocar no lugar do outro, só conseguem julgar, acusar. Na verdade, às vezes, fazemos isso inconscientemente quando  algum vizinho novo aparece e ele tem estilo e costumes totalmente diferentes dos quais fomos criados, e isso é suficiente para que não nos aproximemos.

Esse preconceito gerou uma situação complicada para o garoto e para Abelardo que o "adotou". O cachorro de Maurício sumiu, então os meninos acusaram Jonas. A escola pegou fogo e Jonas tentou ir até o local para apagar o incêndio, mas todos estavam tão focados em culpá-lo que quase o lincharam. Há alguns anos todo um bairro linchou uma mulher porque eles "acharam" que ela era sequestradora de crianças. Obviamente a mulher morreu, mas ela era só parecida com a verdadeira sequestradora. Fazer justiça com as próprias mãos sem provas concretas é um comportamento decadente do ser-humano, é como se vivêssemos ainda na idade das pedras. Menos julgamento, mais solidariedade.

Jonas foi inocentado de ter provocado o incêndio na escola, no entanto, ninguém mais entrada na loja de Abelardo, que vendia ferramentas. Essa é mais uma prova de que as pessoas são amarguradas.

Quanto a Imprensa local, nada mudou... Sempre Sensacionalista
Para finalizar é importante ressaltar a importância do papel da mídia para manter as pessoas bem informadas. No caso deste livro infelizmente o papel da mídia não é exatamente esse. Como passam a surgir conspirações contra o Jonas, algumas pessoas passam a afirmar que o garoto é um alienígena e a mídia local compra a tal história para conseguir alavancar as tiragens.
A notícia tomou tal proporção que os jornalistas passaram a fazer plantão em frente a casa de Abelardo para que eles conseguissem dar uma palavra com o "menino E.T". 
Esse tipo de notícia ocorre o tempo todo, principalmente na internet, onde eles lucram por cliques, por pessoas que visitam o site. Então, para receber vários acessos por dia, os protótipos de jornalistas criam, inventam, aumentam situações absurdas para conseguir lucrar e não informar.
  
Bom, se Jonas é ou não um E.T? Só lendo mesmo para saber. A leitura é simples, divertida e nos abre esses leques para reflexões. Indico.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Sou brasileira com muito orgulho, 
com muito amor!

Mas, afinal o que é ser “brasileiro”? Somos brasileiros ou nos tornamos brasileiros, a partir de uma cultura? O que nos torna brasileiros, a nacionalidade? Ou o culturalismo?
Não gosto de generalizações, nem tampouco de colocar toda a farinha, dentro do mesmo saco.
A natureza nos brindou com uma terra agradável que "em se plantando tudo dá" e a vantagem de não ter que viver às voltas com furacões, vulcões, terremotos, maremotos e tantas outras coisas. Temos, sim, enchentes, deslizamentos, essas coisas, mas nada comparável ao que vemos nos noticiários em relação ao que ocorre lá fora.  É sim, gigante pela própria natureza!
O Brasil, é formado por grandes nomes, brasileiros e brasileiras - que com sua arte, história, poesia, luta, música, convicção, luta e amor por esse país, norteou o rumo da nossa nação.
Ser brasileiro também é, construir escolas e juntar forças para levar experiências de vida e histórias aos lugares mais remotos da Amazônia. É dar importância aos índios e às pessoas que, apesar de viverem em lugares remotos, fazem parte de nossa sociedade e compartilham o mesmo sonho.
O antropólogo Roberto Da Matta  em sua obra "O Que Faz o Brasil, Brasil?", compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumado a violar e a ver violada as próprias instituições; no entanto, afirma que é ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada.
Quem nunca ouviu a famosa expressão “Jeitinho Brasileiro”, pois é...
Chegamos na parte da nossa leitura, em que muitas pessoas repudiam e se reconhecem.
Diversos personagens do imaginário popular brasileiro trazem esta característica. Um dos mais conhecidos é o Pedro Malasartes, de origem portuguesa, profundamente enraizado no folclore popular brasileiro através do livro Malasaventuras, escrito pelo paulistano Pedro Bandeira. João Grilo, personagem de Ariano Suassuna em Auto da Compadecida, também carrega em si o jeitinho. Volto a frisar, não devemos colocar toda a farinha, dentro do mesmo saco.
Oras, analisemos a sociedade atual e o “seu jeitinho brasileiro” de conduzirem as coisas. No meu ponto subjetivo de vista, não devemos colocar todos os créditos apenas nos governantes. Quem faz o Brasil, acontecer, são os brasileiros, com ou sem poder.
Um cidadão comum, pode não ter um dos três poderes que regem a estrutura do nosso país, mas vejamos, o poder que ele tem em suas mãos de transformação social. Citarei alguns exemplos: Comprar produto pirata, furar a fila, enganar as pessoas em negócios ilícitos, dar informações erradas para os turistas, puxar o tapete do colega no trabalho, beneficiar de dinheiro que não lhe pertence, entre outras atitudes que deveriam ser banidas e recriminadas da cultura brasileira.
Daí, você pode me perguntar: “Mas, isso só acontece aqui?” A resposta é não. Muitas trapaças surgiram e perpetuam de acordo com a evolução da espécie humana, independente do canto deste planeta que ela esteja. Porém, existe uma peculiaridade: para a maioria dos brasileiros tais atitudes são consideradas normais, e já estão incorporadas no dia a dia, falta aos brasileiros noção do que é “certo e errado” do que é “moral e ética” do que “eu posso e do que não convém”. A reflexão é bem simples, não é porque eu posso fazer, que me convém fazer. Não é porque me convém que devo praticar.
O Brasil também vai para a rua e exigir mudanças, rompendo com o silêncio e se sentindo livre para expressar seus desejos. É parar o país ao menor sinal de indignação.
Aqui, convido os ilustres leitores a uma rápida reflexão: Vocês já viram brasileiros irem para as ruas manifestar-se contra “os gatos”? Certamente não, pelo contrário, brasileiro vibra quando consegue puxar a TV a cabo do vizinho.
Se estamos na era do “vem pra rua”, das hashtags estamos cansados de corrupção, porque será que os plantonistas, ainda não saíram para a rua pedindo o fim da sonegação do imposto de renda?
“Se beber não dirija”. Segundo os dados da Polícia Rodoviária Federal para a campanha Operação Carnaval 2017, foram registrados 1.696 acidentes em 2017, a quantidade de vítimas fatais aumentou 23,9% em relação a 2016 (113 óbitos).
Numerosos são os trabalhadores que pegam atestado médico, sem estar doente para poder faltar do trabalho. Daí, surge a crítica: Existe uma máfia de médicos, que vendem atestados. Eu vou retrucar: Sim, existe! Vivemos em uma sociedade capitalista, tendo dinheiro se compra qualquer coisa, tudo está a venda. Por isso, repito, brasileiro não tem noção de certo e errado. Tudo me é permitido, nem tudo me convém.
Brasileiro, quando vai viajar pela empresa, o almoço custa R$20,00, ele pega nota de R$30,00. Brasileiro não lê, não estuda, só pensa em feriado, reclama da segunda-feira, tem preguiça de levantar cedo, culturalmente cultiva o futebol, a cerveja, as novelas, as redes sociais para ser juiz de todos os casos, aqui mais um exemplo, de falta de noção. Brasileiro não opina, brasileiro julga.
Até os titulados “doutores,” são maus educados. Os nossos governantes, sem noção. O nosso povo, estúpido e a nossa cultura é machista, opressora e vulgar. O que fazer, então?
A receita pronta não existe. Mas, uma coisa é certa. Se cada um cumprisse o seu papel, a partir dos seus nichos, tornaríamos patriotas mais civilizados e menos ogros.
Se eu começar na minha casa, ensinando meus filhos, a não tratar como normal o que é imoral, eles vão carregar e espalhar consigo o que incorporaram como correto e assim consecutivamente.
Não existe varinha mágica, mais existe ética, noção e moral.