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quarta-feira, 10 de maio de 2017

                                      O segredo dos seus olhos 


Gosto de filme que após os créditos finais coloca-me em reflexão filosófica, acerca da vida e de tudo que nos aprisiona. "O segredo dos seus olhos" é mais que um filme é uma obra prima. Trata-se de um filme argentino (Sim, eles sabem fazer filmes), que foi ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2010. Dirigido por Juan José Campanella, a história envolve passado e presente. 

O filme é forte, instigante e indescritível, risadas e comoções caminham juntas. Primeira vez que deparo-me com filme argentino com um elenco tão grandioso e qualificado. Atores que não são piegas, não estão em todos os filmes como é característica do cinema hollywoodiano. 

Ricardo Dárin, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino, e o personagem cômico de Sandoval vivido por Guillermo Francella o alcoólatra sério.

O longa mostra de forma estupenda o âmbito judiciário, como é dito no filme "limpam a bunda com a justiça". A trama vai se desenvolve em cima de um estupro seguido de assassinato que mexe demais com a indignação e com a sede de justiça que existe dentro de cada um de nós. 

A história conta a inquietação de Benjamin Espósito (Dárin) um perito criminal, funcionário do governo argentino na década de 70 que não consegue viver bem após vinte e cinco anos de um crime mal resolvido e que ao mesmo tempo se pergunta: "Como se faz para viver uma vida cheia de "nada"?

O filme realmente trabalha com os olhos. Soledade Villamil personagem de Irene fala pelos olhos quase o tempo todo. Desde o começo do filme percebemos Benjamin como um homem triste, solitário e introspectivo. Já Irene nos indica o amor que sente por Benjamin e vive de luto pela vida que leva. 

Em uma determinada cena um colega de trabalho de Benjamin faz um paralelo sobre a paixão que temos por algo que gostamos muito, a inquietude busca completar os vazios que há anos pode permear nossas vidas. Ou seja, tudo redimensionado as escalas mais humanas e realistas. As idas, vindas e voltas de cortes temporais fazem os paralelos com o passado dos envolvidos e também são várias referências feitas a ruas, lugares, personalidades e contexto histórico.

A narrativa é um primor no que tange o real e o imaginário, que de quebra ainda conta com uma cena antológica de perseguição num estádio argentino de futebol. Este mosaico que vai ganhando uma nitidez cada vez mais imponente na trama mostra-se num ritmo crescente e quase hipnótico que perfaz uma travessia agradável para o espectador sem precisar usar apelação.

Com um final surpreendente, simplesmente fantástico, que classifico como um dos melhores que já vi, a obra não pode ser vista apenas uma vez. Uma análise mostra o cárcere vivido sob diversas formas, tanto um amor encarcerado, que só nasce após a dissolução do caso, quanto um amor de marido que opta por se autoaprisionar quanto outra forma de cárcere que me deixou abismada e ainda fascinada pela trama. 

Até no epílogo Campanella destila um talento e originalidade que beira o universo do bom gosto, e nos conduz a um filme que nos faz refletir e que nos faz admirar além do Papa Francisco, é claro, este diretor que dignificou a arte do cinema argentino.

A cena da prisão em que o assassino está atrás das grades, pelo ângulo dá a impressão que não só ele mas todos estão. A câmera filma cada um separadamente nessa cena, mudando de ângulo. Quem assiste o filme vê os diferentes homens atrás das grades. É fantástica esta cena! Todas aquelas três vidas diante daquele acontecimento foram condenadas. O filme é uma obra prima.

            Quem não viu precisa ver! Mil vezes recomendo.
                    E o melhor tem no Youtube.

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