Livro: A Estepe - Anton Tchekoff
O mestre das
narrativas curtas do século 19, Anton Tchekoff, brilhante escritor russo,
contista e dramaturgo têm sido aclamado e considerado mestre do conto moderno.
Tchekoff, foi médico, mas afirmava: “ A medicina é minha legítima esposa; a
literatura é apenas minha amante”. Foi citado por Alfredo Bosi como um “pescador
de momentos singulares cheios de significação”.
Tchekoff escreveu muitas crônicas sobre
a vida russa. Em Abril de 1887, ele escreve uma carta para sua irmã:
“... Há um aroma de estepe e se ouve os
pássaros cantarem. Eu vejo meus velhos amigos os corvos voando sobre a estepe.”
Grande júbilo
despertou em minha alma ao reler essa literatura clássica mundial. Verdadeiramente um clássico contemporâneo da
literatura russa, uma delícia de leitura estranha e original em que se reflete
uma imagem da planície russa e seus tipos humanos, tudo recriado pelo prisma da
percepção infantil do seu personagem principal, o garoto Iegoruchka, que faz uma
longa viagem para ir estudar fora, contrariado da sua vontade, mas por insistência da mãe que acreditava que seu futuro não estava no local, o menino
embarca nesta viagem acompanhado de seu tio (um comerciante) e de um padre.
Também apresenta o caráter múltiplo do texto: um relato da experiência, uma narrativa ficcional, um estudo de tipos humanos, a pintura da natureza, além de retratos das atividades econômicas, das relações sociais e das mudanças de comportamento em curso.
Numa das cartas, Tchekoff, escreve:
“Meu objetivo é matar dois pássaros com um tiro: descrever a vida de modo veraz
e mostrar o quanto essa vida se desvia da norma. Norma desconhecida por mim,
como é desconhecida por todos nós”.
O livro mostra de forma clara a
realidade russa da sua época, retrata a pobreza ao mesmo instante que mostra a
imensidão da estepe russa. Durante a viagem Iegoruchka, pode contemplar a
paisagem e os campos, conhece outras pessoas, e gradativamente vai despertando
no garoto a curiosidade com o mundo á sua volta.
Tchekoff, nos presenteia com esta
história, rica em detalhes e nobre em
simplicidade. Ao mostrar mudanças de fases, medo, solidão e sonhos sob o
olhar de um menino pobre de 10 anos, que saindo da sua cidade deixando a
proteção de sua mãe, parte em busca de novos horizontes, sozinho para enfrentar
os desafios da vida adulta.
O elemento chave nesta história é o
padre Cristóvão, que ao longo do percurso distribui sorrisos, otimismo e sempre
tem uma palavra para o menino. Essa relação de confiança e amizade vai
crescendo ao decorrer da história. O clérigo iluminado que tenta incutir ao
jovem a luz do saber.
O ponto alto do livro a mensagem final
é o conhecimento como caminho para o progresso. A história termina com um raio
de luz numa expressão de bondade humana e de esperança num mundo melhor.
Simplesmente delirante!
Flávia Couto Basso.
Como sempre, uma brilhante análise e uma instigante perspectiva! Parabéns, Flávia Basso.
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