Visitantes

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Música Colonial Brasileira
O Mozart Mulatinho


The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Já ouviu falar?

Digamos que seja a bíblia dos músicos. Uma belíssima enciclopédia com mais de 22.500 artigos e 16.500 biografias, uma leitura que dura a vida toda. Pode ser adquirida através da Livraria Cultura e custa em média R$9.353,30. Acessível? Não. Porém, invejável.

Essa obra é a mais importante referência sobre a música ocidental. O grande idealizador foi o senhor Sir George Grove que editou e publicou a primeira edição em Londres em 1900. Grove como bom amante da música e responsável pelos concertos orquestrais do Palácio de Cristal, anotou tudo e gradativamente montou seu dicionário. O que demonstra que não é qualquer música e/ou qualquer músico que teve a honra de ser registrado em sua enciclopédia.

Essa breve apresentação e só para mencionar um nome que está citado na obra de Grove, o Padre José Maurício Nunes Garcia (1767 -1830) descendente de escravos foi o mais importante compositor brasileiro da sua época (ainda colonial). Padre José era professor de música, maestro e multi-instrumentalista. Com altíssimas atribuições intelectuais.

Mestre de Capela da Catedral do Rio de Janeiro, Padre José teve seu ponto culminante em 1799, compondo partituras para uso Litúrgico, antífonas, compondo para posse de reis, velório na Família Real... Tornou-se inspetor e organista de música na Capela Real, teve um contrato com o Senado para tocar em ocasiões solenes, compôs mais de 70 obras sacras, dramáticas para diversas ocasiões. Pela corte lhe foi outorgado o grau de cavaleiro. Escreveu várias obras teatrais.
Abriu uma escola de música e entre seus alunos estava: Francisco Manuel da Silva, autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro e Dom Pedro I.

O Padre também dirigiu a estréia brasileira do Requiem de Mozart, fez o Compêndio de Músicas e Métodos de Painoforte, o primeiro tratado teórico-prático sobre o teclado escrito no Brasil por um brasileiro. Seu rosto virou selo em 1973, em reconhecimento por parte dos Correios do Brasil. É patrono da 5ª cadeira da Academia Brasileira de Música, seu nome virou nome de ruas e escolas em várias cidades.

Do Padre José Maurício são conhecidas mais de 240 obras musicais, pesquisa mostram que sua produção teria sido o dobro.

Faleceu em 18 de Abril de 1830 aos  62 anos de idade, no Rio de Janeiro onde nasceu e viveu, sussurrando um hino de Nossa Senhora.
A Irmandade de Santa Cecília foi responsável pela missa fúnebre e na cerimônia uma pequena orquestra executou a "Sinfonia Fúnebre" (CPM 230)composta 40 anos antes de sua morte, foi sepultado na Igreja de São Pedro de Clérigos.

O Padre foi um dos poucos compositores do período colonial que não foram esquecidos. 

Porém, os esforços de recuperação dos seu legado não tiveram muita continuidade e isso foi reconhecido em 1967 no catálogo da exposição organizada pela Biblioteca Nacional em comemoração aos 200 anos.

Não tiveram continuadores nos poderes públicos, nem mesma a própria Igreja Católica, nem o lugar onde nasceu preocupou-se em comemorar e fazer memorando. Nos anos de 1980 o interesse pela sua obra se renovou, sendo realizadas várias comemorações no Brasil.

Muitos músicos foram influenciados pelo Padre José, muitos beberam desta fonte. Quem bebeu e não voltou é porque se saciou.
Flávia Couto Basso.

Ouça Sinfonia Fúnebre de Pe. José Maurício Vamos manter viva a memória deste gênio!




Nenhum comentário:

Postar um comentário